É imprescindível que resgatemos, no seio de nossas igrejas, a responsabilidade por vidas que testemunhem o caráter irrepreensível de Cristo.
"Porque estas cousas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos...no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Pois...aquele a quem estas causas não estão presentes é cego,..." ( 2 Pe 1.8 e 9).
Ainda esta semana eu ouvi sobre ele. Alguém que chegou à cidade para assumir um novo cargo, alugou uma casa e a mobiliou a crédito. Trabalhou uns poucos meses e então desapareceu deixando para trás uma imensa dívida referente a aluguéis não pagos e prestações vencidas. Ele era um pastor evangélico.
Infelizmente eu ouvi falar de dois desses pastores caloteiros esta semana. Em outras ocasiões eu recebi relatório de amigos que viajam bastante contando de pastores tendo casos extraconjugais, dando e obtendo favores políticos (tanto em suas igrejas como na política secular), emitindo cheques sem fundos, ou mentindo descaradamente. Muitos pastores nem mesmo parecem se importar quando prometem algo e não cumprem sua palavra.
Eu tenho conversado bastante sobre isto com muitos líderes e todos concordam que deficiência de caráter é um grande problema no seio da igreja evangélica. Eles tem observado tantas características imorais entre seus pastores e líderes que estão chegando à conclusão que não há nada a ser feito sobre o assunto; isto provavelmente continuará até a volta de Cristo. Mesmo quando tais líderes são homens essencialmente íntegros, eles tem freqüentemente se acomodado à crise de falta de caráter que encontramos na igreja, em vez de falarem profeticamente contra ela.
Estou convencido que a situação não pode continuar como está até a Segunda Vinda. Não somos capazes de desenvolver pastores ou igrejas perfeitos, mas podemos melhorar. Deus é soberano mas creio que Ele não continuará a honrar àqueles cujas vidas O desonram. Se as pessoas não virem vidas mudadas, com atitudes diferentes, elas ficarão desencantadas com a igreja e escorregarão pela porta dos fundos. Se filhos vêem seus pais sorridentes e pacíficos, na igreja, mas os conhecem como exemplos de desonestidade, adúlteros, mesquinhos ou pessoas amargas, em casa, poderemos realmente esperar que aquelas crianças creiam em Jesus? Elas estarão entre aquelas mais difíceis de se converter, no futuro.
As pessoas realmente não esperam que seus pastores e líderes sejam perfeitos. Entretanto, elas tem todo o direito de esperar que estejam ajustados aos critérios de l Tm 3.2-7 ouTt 1.6-8: (sobre o caráter esperado de um presbítero) "...alguém que seja irrepreensível...". O Senhor também tem o direito de exigir que os líderes de Sua igreja se ajustem a certos padrões. Nós todos somos seus embaixadores. Se o nosso caráter basicamente não reflete o Seu, então, nós não o representamos adequadamente e Ele terá de achar outros representantes por causa de Sua glória e reputação.
Por quê o desenvolvimento do caráter não é uma prioridade em nossos ministérios?
Talvez tenhamos compreendido mal as prioridades de Deus para os homens. Nós freqüentemente vemos áreas nas quais a igreja adota os valores da sociedade sem realmente as analizarmos. Tendemos a dar mais honra ou atenção aos ricos, bonitos, ou bem sucedidos. Isto significa que "sucesso", pelos padrões humanos, tem freqüentemente se tornado a vara de medida para a religiosidade ou a espiritualidade.
Contudo está perfeitamente claro em Mt 7.21-23 que muitos ministros de "sucesso" não terão acesso ao céu. Como freqüentemente se diz: nós poderemos nos surpreender quanto a quem encontraremos no céu e a quem não...
A maior prioridade de Deus é Sua glória. Nossas vidas deveriam ser intencionalmente dirigidas por nós para glorificá-lo e terem gozo nEle. Quando Deus contempla as pessoas, sua primeira prioridade é estabelecer um relacionamento, para redimi-las, para adotá-las em sua família e assegurar que passarão a eternidade com Ele.
A segunda prioridade de Deus é o desenvolvimento do caráter dessas pessoas. Ele está interessado em seus corações (ISm 16.7), com o que são e no que estão se transformando, com o fruto do Espírito. Ele sabe que tudo o que fizerem será o resultado daquilo que está em seus corações. (Mt 15. 18,19). Por isso, sua terceira prioridade é o que as pessoas fazem e, em quarto lugar, Deus está interessado nos resultados exteriores de nossas vidas, nos frutos exteriores que produzimos.
Eu ofereço esta ordem das prioridades de Deus não como dogma, mais sim como algo que me ajuda a alinhar as minhas prioridades. Naturalmente, o caráter vai além do que estamos pensando interiormente; ele também sempre se revela externamente. E para sermos mais precisos, nós normalmente somos incapazes de separar nosso caráter (aquilo que somos) daquilo que fazemos, tanto em nossos ministérios, como nas demais outras atividades de nossas vidas. Todavia, ainda é útil para nós enfatizarmos que nosso Deus deseja que façamos do que somos uma prioridade, acima daquilo que fazemos.
Como em qualquer discussão sobre valores, é a interação entre as prioridades o mais interessante e, talvez, o mais importante para se entender. Por exemplo, Deus não está interessado em que enchamos nossas igrejas a qualquer preço usando qualquer método. Se você contratar dez brutamontes com metralhadoras e usá-los para intimidar pessoas no quarteirão e arrebanhá-las para sua igreja Deus não vai ficar nada satisfeito. Como você ministra a eles, tem prioridade sobre se você é capaz, ou não, de obter um resultado de aparente crescimento de sua igreja. Se nós ministrarmos de uma maneira que agride princípios bíblicos, então, Ele não ficará satisfeito, apesar dos resultados aparentes.
Da mesma forma, Ele não está satisfeito com a hipocrisia. Se fazemos as coisas certas, obedecemos todas as regras e ministramos de acordo com sólidos princípios teológicos mas, por dentro, somos lascivos, gananciosos ou ásperos, então Ele não está satisfeito. Nós estaremos sendo como muitos fariseus que buscavam o bem na aparência exterior. Eles perderam a verdadeira intenção ou o espírito da lei que deveriam ser obedecidos a partir dos corações. Ele pode até abençoar os resultados ("não temos nós... em teu nome expelido demônios e não fizemos muitos milagres?") e ainda assim estar muito descontente conosco ("...nunca vos conheci. Apartai-vos de mim." Mt 7. 22,23).
Finalmente, embora creiamos que o caráter resulta da ação do Espírito Santo no coração e vida de uma pessoa, é possível, para alguns, terem qualidade visíveis de caráter e ainda assim, não terem um íntimo relacionamento com Deus.
É claro que existem aspectos de nosso relacionamento com Ele que continuarão a ser como "que por um espelho obscuro" (l Co 13:12), e nossa expectativa de quão perto chegaremos nesta vida precisa ser realística. Contudo, Sua primeira e mais premente prioridade é que nós O amemos de todo nosso coração, alma e entendimento. Ele não está satisfeito se nós estamos envolvidos em muitos ministérios bíblicos com integridade e fantásticos resultados. Se estamos fazendo tudo isso para Ele e não com Ele.
Talvez esta seja uma falha nossa - a de prezarmos e entendermos o relacionamento entre essas prioridades - que tem corroborado em nossa falha de fazermos do desenvolvimento de caráter uma prioridade em nosso ministérios.
Como podemos fazer do desenvolvimento de caráter uma prioridade?
Pregue isso; viva isso; pratique isso. Nós sabemos como pregar. Viver e praticar nós acharemos mais difícil. Eu sugiro um processo guiado por três princípios fundamentais.
1. Separe tempo para ficar com as pessoas.
Abra sua vida para os líderes que você está treinando. Quando evangelizar, ajudar os pobres, ou visitar enfermos, leve alguém com você. Deixe que vejam seu caráter enquanto ministram juntos. Eles não apenas apreenderão o que fazer mas também a como devem ser. Abra seu coração para eles. Gaste mais tempo com eles. Conversem e orem juntos. Ouça. Encoraje. Não direcione a maior parte da conversa.
2. Ponha qualidades do caráter em prática. (Jo 13.17)
É fácil dizer a alguém como evangelizar ou realizar determinado ministério. É mais difícil designar maneiras práticas de passar qualidades de caráter para outros. Quando desenvolvemos o caráter em alguém, geralmente, não podemos "ver" o que está acontecendo em seus corações. No entanto, podemos sugerir exercícios externos que desenvolvam qualidades interiores à medida que a pessoa atue em colaboração com o Espírito Santo. Também podemos encorajá-los e apoiá-los à medida que eles realizam suas atividades.
3. Bole passos pequenos e concretos, para treiná-los a serem fies em pequenas coisas. (Lc 16.10)
Não tente fazer tudo de uma vez, mas desenvolva o hábito de obediência interior em determinada área. Pratique as qualidades do caráter em pequenas coisas. 97% da vida constitui-se de pequenos eventos e atitudes que experimentamos. Também, fidelidade em pequenas coisas os ajudará a discernirem e a responderem sabiamente quando situações maiores e mais complicadas surgirem. Queremos intencionalmente desenvolver uma qualidade interna através de pequenos exercícios externos praticados diariamente por mais que um mês.
Existem muitas formas para se fazer isso. Você pode desenhar métodos que serão efetivos em seu contexto. Como exemplo aqui está algo que eu freqüentemente peço às pessoas que estou treinando, quando estamos trabalhando o aspecto de sermos mais leais (i.e., evitando maledicência):
1. Nós revisamos a importância bíblica de lealdade. Memorizamos Tg 4.11. Escolhemos uma definição de maledicência.
2. Várias vezes por dia a cada dia eles: Oram para que o Espírito Santo os tornem mais leais.
Carregam consigo um pequeno pedaço de papel no qual marcam um " x ", para cada conversa em que tenham falado mal de alguém, e um " * ", para cada conversa em que tenham sido leais.
3. Uma vez por semana nos reunimos para relatar sobre a tarefa e orar e conversar sobre o que esse processo está nos ensinando.
Um dos aspectos-chave desse processo é que várias vezes por dia ele lembra às pessoas daquilo em que estão empenhados. Estou certo que existem melhores maneiras de treinar pessoas a deixarem o hábito da maledicência, mas este aqui requer menos do que cinco minutos por dia e os princípios do método podem ser aplicados em muitas áreas. Ao longo dos anos este sistema tem ajudado centenas de participantes a praticarem menos a maledicência em seus contextos cotidianos normais.
Desenvolver o caráter por meio de treinamento atinge a necessidade das pessoas e as auxilia a viverem mais fielmente a cada dia e experimentar bem mais da vida abundante que Jesus oferece. Esse é um ministério tremendamente compensador. Precisamos fazer dele uma prioridade em nossas vidas.