Escrito por: Pr. Ariovaldo Ramos -- Uma multidão de trabalhadores, em greve geral, marcha pela rua principal da capital de um país qualquer, quando depara-se com a tropa de choque armada "até os dentes", o impasse se estabelece, cai sobre os grupos um silêncio tétrico...que é quebrado por um membro do comitê de greve, que, lançando mão do megafone, conclama:- "Companheiros, avancemos, porque Deus está do nosso lado".
Com essa história, o teólogo Hugo Assman respondeu a pergunta, feita por um jovem, sobre o que seria a teologia da libertação. A AEVB, embora, não espose a referida teologia, concorda com a premissa de que Deus opta, preferencialmente, pelo pobre.
Por isso a Associação Evangélica Brasileira celebra oportunidade que lhe foi concedida, de fazer-se representar no Consea, Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional.
Muito se tem dito sobre o Programa Fome Zero, pró e contra. Bem, o programa está na rua, entre outras coisas, para suscitar o debate, que é salutar meio de exercício da democracia. Nós, evangélicos, queremos colaborar, entendemos que a erradicação da fome, não só pelas ações emergenciais, como pela eliminação de suas causas, é premente ao Brasil.
Compreendemos, também, que fome é um conceito complexo, que envolve tudo o que compõe o que chamamos de "Qualidade de Vida". Como disse Jesus: "Nem só de pão vive o homem." Ou, no dizer do poeta: "A gente não quer só comida!".
Mas, a gente quer colaborar, arregaçar as mangas, dar a nossa cota, irmanando-nos com os demais segmentos da sociedade civil. Há muito esperávamos um governo convertido ao pobre; que levasse a sério o critério de Jesus para reconhecer os seus: "Tive fome e me destes de comer, nu e me vestistes, enfermo e me visitastes, encarcerado e fostes ver-me".
Caridade tem sido o nosso labor desde sempre, por isso, mais do que ninguém, temos claro que a solidariedade mitiga, mas, não resolve, pois, atua, apenas, sobre as consequências, e que, também, caridade para sempre é inviável para quem faz e deletério para quem a sofre, porém, a experiência nos ensinou que só quem se desespera diante dos sintomas corre para eliminar as causas.
É claro, o governo não pode ser o pai dos pobres, mesmo, porque, esse papel é de Deus, que como ensinou o profeta Isaías, está a perguntar: "A quem enviarei; quem há de ir por nós?" Nós queremos ir!
Só o crescimento resolve isso! Ressurge a grita! Nós já ouvimos isso: "Vamos fazer o bolo crescer primeiro, para termos o que dividir!" Estamos até hoje esperando por nosso pedaço! E, pior, enquanto aguardamos sentados, observamos, cada vez mais ricos, senhores passarem por nós com a boca lambuzada.
Não! Cristo nos ensinou que a multiplicaçâo só acontece após a entrega de, aparentemente, irrisórios cinco pães e dois peixes. É por aí que queremos ir, é o que nasce da solidariedade que acaba por reciclar as estruturas. A contribuição da tradição judaicocristã ao ocidente que o diga.
Será que esse projeto, apesar da boa vontade, dá conta? É pergunta que nos tem sido feita, como se o projeto fosse um produto acabado. Se o fosse, seríamos claque e não agentes.
O artigo 9° da Medida Provisória que constituiu o Consea reza que, ao mesmo "compete assessorar o Presidente da República na formulação de políticas e definição de diretrizes para que o governo garanta o direito humano à alimentação, e especialmente integrar as ações governamentais visando o atendimento da parcela da população que não dispõe de meios para prover suas necessidades básicas, em especial o combate à fome."
É isso! Onde o pacote fechado? Nós, no dia 30 de janeiro de 2003, com esperança, fomos à deflagração de um movimento conjunto, à celebração de uma parceria entre governo e sociedade civil, com vistas à erradicação da fome, que permitirá o engendramento de políticas construtoras de estrada, que nos leve das ações emergenciais ao desenvolvimento sustentado.
Bem, é verdade que esse negócio de ficar falando de fome constrange, expõe as nossas mazelas. Os que ganham com a maquiagem da realidade ficam aperriados, a ponto de darem voz a quem nunca permitiram falar, desde que simploriamente lhes confirmem a tese.
Porém, como disse Jesus: "A verdade os libertará". Sabe, nós evangélicos, majoritariamente pobres, negros e mulheres temos aprendido que, mais do que países subdesenvolvidos, o que existe são elites subdesenvolvedoras. Nossa contribuição, por isso, carrega, também, o desejo de ver a conversão de nossa elite.
Pr. Ariovaldo Ramos Representante da AEVB no Consea