Sei de um grande número de pastores que gostariam de ter um programa básico para desenvolver um ministério com casais em sua igreja local. O trabalho com casais na igreja é tremendamente eficaz para promover a ação terapêutica no ambiente familiar e na própria igreja. Assim ele pode se tornar, também, urna ferramenta estupenda na evangelização e crescimento das pessoas e da igreja.
A maioria dos pastores ou igrejas, se limitam, porém, a ter um ou dois encontros de casais por ano, outras um pouco mais privilegiadas mantém uma classe de escola bíblica dominical abordando este tema. Este ministério cumpre um papel educativo e terapêutico importante, porém não com profundidade suficiente para atender o que a questão da família exige da igreja. Pretendemos neste espaço indicar algumas pistas, de modo especial ao pastor, para que os encontros, as classes especiais e o próprio aconselhamento de casais ganhe eficiência, eficácia, e efetividade.
1° O mais Sublime chamado
Antes de qualquer coisa precisamos compreender a natureza, a importância e a finalidade do nosso chamado. Freqüentemente achamos que Deus nos chamou para fazer coisas, exercer uma atividade, etc. O maior desejo de Deus é que O conheçamos profunda e intimamente, desfrutando de comunhão ilimitada. Este desejo é tão forte, que Ele veio, abrigou-se numa carne como a nossa, misturou-se conosco, fez-se conhecido, mostrou o rosto.
Estabeleceu um projeto de tal forma que participamos cfeste propósito eterno e, por esta razão, Deus nos convida a nos identificarmos com sua maneira de ser, a ponto de nos tornarmos parceiros de sua manifestação entre os homens. Estas são as.razões pelas quais Deus desejava viver e nos chama para a mais sublime realização do ser humano: A comunhão íntima com Deus (I Jo.1.3; Pv.8.34; I Co.1.9; Fp.2.1; Ef.3.9,11; II Tm.1.9; Hb.2.6-7; Fp.3.10). Certo teólogo afirmou: "Há um vazio no coração do homem que só pode ser prenchido por Deus". A partir desta afirmação poderíamos talvez dizer: "Há um vazio no coração de Deus que se completa com a nossa comunhão com o próprio Deus."
Muitos pastores encaram o ministério primeiramente como uma realização pessoal. Sabemos porém que a verdadeira realização está na nossa comunhão com Deus, Outros se frustram no ministério porque sem comunhão íntima com Deus, caem na rotina e fracassam, porque só Deus pode renovar nossa rotina. Deus não dá uma novidade todo dia, mas Ele faz novo tudo que vivemos diariamente por causa da nossa comunhão com Ele.
A comunhão com Deus é o chamado mais sublime. Nem o ministério, nem o pastoreio, nem o casamento, nada, absolutamente nada deve nos afastar dele.
2° Desnudando-se nu diante da esposa
Esta é uma das maiores dificuldades para os homens e, mais ainda, para a maioria dos pastores. Não é fácil se deixar ser conhecido, abrir os nossos conflitos interiores, ou falar das nossas taras, desejos impuros, dificuldades de comunicação para outra pessoa, mesmo que ela seja a nossa esposa. As dificuldades são maiores com os pastores porque freqüentemente eles sentem ou se exige deles que mantenham a aparência que estão bem.
São inúmeras as historiais de esposas magoadas por causa da guerra verbal, da falta de comunicação, das brigas por razões financeiras, infidelidades, incompreensões, desrespeitos etc. Pastores não são diferentes de outros homens. Eles precisam ser honestos, abertos, transparentes, verdadeiros. Ou, como diz a Bíblia: "precisam andar na luz".
O cristão, o pastor, o líder precisa abrir o coração com sua esposa por três razões pelo menos. Primeiro, porque Deus espera isto de todos nós (I Jo.1.5-7; Jo.3.19-21); segundo, porque a melhor terapeuta de um homem é a sua esposa e vice-versa; terceiro, porque quando aconselharmos na área de família haverá essa realidade e testemunho em nossa vida e ministério e, então, estaremos vivendo o que ensinamos e falando a verdade.
3° Uma vida sexual saudável
Existe uma forte tendência entre os evangélicos de negar nossa humanidade. Entre os pastores, por estarem mais em evidencia, além da humanidade, nega-se a sexualidade, via falsa espiritualidade ou via negação da nossa natureza pecaminosa que se manifesta em muitos momentos atravês dos desiquilíbrios sexuais.
Muitos pastores convivem com duas personalidades: uma no púlpito, outra na cama. No púlpito, passam uma imagem de santos e espirituais, na cama demonstram desejos, às vezes impuros que, apesar da fé e do conhecimentos bíblico que possuem, ainda não foram retirados de suas mentes. Por esta razão se relacionam mal com suas esposas, as tratam como objetos, depósito de esperma. Quantos não se relacionam fisicamente com a esposa mas mentalmente os sonhos, as fantasias e os desejos impuros se estabelecem de tal forma que se tornam uma só carne?
Outros pastores são tão espirituais que consideram o abordar das questões sexuais absolutamente desnecessário. Muitos chegam a dar a impressão que Deus criou o homem e a mulher; o sexo, porém, foi criado pelo diabo com o propósito de gerar esta confusão toda, tamanho descuido com que tratam desta área. Não há tempo, não se conversa sobre o assunto. A esposa é elogiada publicamente enquanto "adjutora" espiritual, e humilhada particularmente enquanto mulher, pela indiferença com que é tratada, não tendo as necessidades de afeto, carinho e ternura atendidas.
Quando se vive um ambiente de inadequação sexual como este que descrevemos, corre-se grandes riscos. A infedelidade bate a porta e torna-se uma grande possibilidade. O primeiro ataque de Satanás é contra a família e, na maioria das vezes, via desatenção na área sexual. A verdadeira espiritualidade é trabalharmos os desejos dentro da normalidade para qual Deus nos criou (I Co.7.1-5).
4° Assumindo a Paternidade
Há uma quantidade imensa de filho de pastores órfãos. Certa vez ouvi um deles dizer: "Eu não gosto muito de ser filho de pastor porque ele não tem tempo para mim. Ele lê a Bíblia, aconselha e ora com todos os jovens da igreja, mas nunca f az isto comigo". Pastores não tem tempo para seus filhos. Não cochicham, não brincam, não dão risadas, não se tocam, não se beijam, não lêem a Bíblia, não oram juntos. Filhos de pastores, como todas as crianças, precisam de amor e disciplina.
A responsabilidade e o privilégio de amar, disciplinar e levar nossos filhos a Deus é tão significativa e importante que não pode ser deixada nas mãos dos professores da Escola Dominical, dos presbíteros, nem mesmo na exclusiva responsabilidade da mãe, mesmo que ela seja esposa de pastor. Esta tarefa é do pai, ainda que ele seja o pastor mais importante e ocupado do mundo. Ser filho de pastor não abençoa automaticamente ninguém. Os filhos são abençoados quando têm um pai.
5° Edificar a família para edificar a igreja
Seria possível alguém que fracassou em edificar sua família em Cristo, edificar um grupo de 100, 200 ou 1000 pessoas? Estas pistas que indicamos tem o propósito de mostrar que o fato de se ter numa determinada Igreja exelentes pregações, programações, estudos bíblicos e aconselhamento na área familiar, não são suficientes para edificar as famílias. Torna-se indispensável que os líderes sejam referenciais, modelos santos enquanto maridos e pais.
Freqüentemente afirma-se que o ministério causa grandes problemas na família do pastor. Poderíamos dizer o contrário: pastores fracassados a nível familiar tem forte tendência de desenvolverem ministérios desestruturados e fracassados. Pastores e líderes precisam, em primeiro lugar, edificar suas famílias, fazer de sua esposa e filhos seus primeiros discípulos para que seus ministérios se estendam além aas palavras e tornem-se eficazes, eficientes e efetivos. Por isto não devemos desistir, mas exercer ou recomeçar o ministério sempre a partir da comunhão com Deus e edificação da família como o mais sublime chamado.
Naamã Mendes é pastor da 1a Igreja Presbiteriana Independente de Maringá, PR, Presidente do Diretório da AEVB do Paraná e autor do livro IGREJA: LUGAR DE VIDA da Editora Betânia.
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