Dia de calor escaldante, como era próprio da região desértica do oriente médio, dois soldados sarracenos, muçulmanos, postados em posição de guarda, num acampamento de seu exército, observam que, ao longe, vem se aproximando um monge cristão, trocam sorrisos matreiros e, num ato que parecia ensaiado, soltam os dois cães, treinados para matar, que tinham. presos pela coleira, ao lado de cada um.
Os cães furiosos se lançam em direção do pobre frade, porém, para surpresa dos soldados, ao aproximarem-se do religioso, repentinamente, tornam-se dóceis, submetendo-se aos gestos carinhosos do estranho que, sozinho, maltrapilho, caminhava em direção daquele acampamento.
Era Francisco de Assis, que, no período das cruzadas, foi para a região do conflito, numa corajosa e solitária tentativa de demonstrar que a fé cristã não era o que os cruzados estavam praticando, e que o seu método era sempre a paz.
Francisco estava certo, uma fé que quer conquistar corações jamais pode usar a força para a obtenção de seus propósitos. Como disse o fundador e mantenedor dessa fé: "Bem aventurado os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus."
Todos gostaríamos de ver o mal erradicado da história, porém, o que nem sempre nos damos conta, é que o mal não é uma entidade, o mal é um comportamento, uma intenção, uma motivação, portanto, para que Deus erradique o mal, há que escolher entre duas possibilidades: Ou mata todos os maldosos ou os converte. Deus escolheu, pelo menos, em relação aos homens, a conversão.
A conversão pressupõe diálogo, interesse, sensibilidade para com o outro. As pessoas se convertem diante do amor e da razão, a força é, na maioria das vezes, irracional. Além do que, a força evoca a punição. Alguém poderia dizer que ninguém sentiria falta dos maus, se Deus os destruisse. Porém, diante da santidade de Deus não há quem não seja mal. Logo, não escaparia ninguém, nem você.
O cristianismo não tem outro caminho senão o da paz; não tem outra retaguarda senão a intercessão; não tem outro método senão a pregação, não tem outra forma de pregar senão vivendo, para, em vivendo o que prega, poder pregar o que vive.
Como disse Agostinho: "Prega o tempo todo, se necessário, usa as palavras." Isso vale para qualquer relacionamento, o que significa que pastores que usam de constrangimentos para pastorear, como o fato de ser ungido por Deus para aquela função, ou qualquer outra forma de coerção, está atentando contra a mensagem e a prática do evangelho.
A arma que os pastores e líderes podem usar com legitimidade é a autoridade moral, fruto de uma vida exemplar. Qualquer ato que não nasça da paz e nela desemboque atenta contra a Palavra de Cristo.
Líderes cristãos, no curso da história, tem cometido essa incompreensão a um custo incalculável, foi assim nas cruzadas, na inquisição, na querra contra os protestantes, na colonização das Américas, da Oceania e da África.
A história, também, tem registrado omissões desastrosas por parte de segmentos cristãos, que foram decisivas para os eventos em curso. Parte considerável dos cristãos alemães se omitiram frente a Hitler, dos italianos frente a Mussolini, dos portugueses frente a Salazar, dos espanhóis frente a Franco, dos brasileiros frente a ditadura militar e, agora, dos estadunidenses frente a Bush.
Esse novo senhor da guerra está vendendo a idéia de se estar em guerra pelos valores cristãos. Dizem que ele ora, mas o fariseu que, segundo Jesus, disse DE SI PARA CONSIGO MESMO, graças te dou oh! Pai, também pensava estar orando, "nem todo o que diz Senhor, Senhor, entrará no Reino de Deus, mas, todo aquele que faz a vontade de meu Pai". Disse o Jesus.
Sabe de uma coisa, ninguém briga por Deus, a gente guerreia por nossos desejos, por nossa ganância, enfim, por impublicáveis motivos. Por Cristo, por Deus, a gente perdoa, ama, abraça, restaura, ajuda, socorre, alimenta, sustenta, enfim, abençoa.
Cristãos, resistam aos senhores da guerra, jamais admitamos que um ser humano, sequer, seja derrubado em nome de Jesus de Nazaré, o Cristo, o Filho do Deus vivo, que não julgou por usurpação o ser igual a Deus, mas a si mesmo se humilhou, assumiu a forma de servo e, achado em figura humana, foi obediente até a morte e morte de cruz.
O justo pelos injustos, o castigo que nos traz a paz estava sobre ele e nas suas pisaduras fomos sarados. Ele evangelizou-nos a paz. Que Ele seja bendito para sempre! Que em nome dele se viva em paz!